1. A alma: Senhor, que confiança posso eu ter nesta vida ou qual é minha maior consolação
de tudo quanto existe debaixo do sol? Não o sois vós, Senhor, Deus meu, cuja misericórdia é
infinita? Onde me achei bem sem vós, ou quando passei mal, estando vós presente? Antes
quero ser pobre por vós, que rico sem vós. Prefiro peregrinar convosco na terra, que sem vós
possuir o céu. Onde vós estais, aí está o céu; e lá existe a morte e o inferno, onde vós não
estais. Vós sois o alvo de meus desejos, por isso por vós devo gemer, clamar e orar. Em
ninguém, finalmente, posso plenamente confiar que me dê auxílio oportuno em minhas
necessidades, senão em vós só, meu Deus. Vós sois minha esperança, vós minha confiança,
vós meu consolador fidelíssimo em todas as coisas.
2. Todos buscam os seus interesses; vós, porém, só tendes em vista minha salvação e
aproveitamento, e tudo converteis em bem para mim. Ainda quando me sujeitais a várias
tentações e adversidades, tudo isso ordenais para meu proveito, pois de mil modos costumais
provar os vossos amigos. E nessas provações não menos vos devo amar e louvar, como se
me enchêsseis de celestiais consolações.
3. Em vós, portanto, Senhor meu Deus, é que ponho toda a minha esperança e refúgio; a vós
entrego todas as minhas tribulações e angústias; porque tudo quanto vejo fora de vós acho
fraco e inconstante. Nada me aproveitam os muitos amigos, nem me poderão ajudar os
homens, nem os prudentes conselheiros me darão conselho útil, nem os livros dos sábios me
poderão consolar, nem qualquer tesouro precioso me poderá salvar, nem algum retiro
delicioso me proteger, se vós mesmo não me assistis, ajudais, confortais, consolais, instruís e
defendeis.
4. Pois tudo que parece próprio para alcançar a paz e a felicidade nada é sem vós, nem pode
trazer-nos a verdadeira felicidade. Vós sois, pois, o remate de todos os bens, a plenitude da
vida, o abismo da ciência; esperar em vós acima de tudo é a maior das consolações dos
vossos servos. A ti, Senhor, levanto os meus olhos, em vós confio, Deus meu, Pai de
misericórdia! Abençoai e santificai minha alma com a bênção celestial para que seja vossa
santa morada, o trono de vossa eterna glória, e nada se encontre nesse tempo da vossa
divindade que possa ofender os olhos de vossa majestade. Olhai para mim segundo a
grandeza de vossa bondade e a multidão de vossas misericórdias e ouvi a oração do vosso
pobre servo desterrado tão longe, na sombria região da morte. Protegei e conservai a alma do
vosso mísero servo entre os muitos perigos desta vida corruptível, e com a assistência de
vossa graça guiai-o pelo caminho da paz à pátria da perpétua claridade.
Amém.
Fonte: Livro Imitação de Cristo
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