1. Senhor, meu Deus! Preveni vosso servo com as bênçãos de vossa doçura, para que mereça
digna e devotamente chegar-me a vosso augusto Sacramento. Despertai meu coração para
vós e tirai-me deste profundo entorpecimento. "Visitai-me com vossa graça salutar" (Sl
105,4), para que goze em espírito vossa doçura, que com abundância está oculta neste
Sacramento, como em sua fonte. Iluminai também meus olhos para contemplar tão alto
mistério, e fortalecei-me para crer nele com fé inabalável. Porque é obra vossa e não de
poder humano, sagrada instituição vossa, não invenção dos homens. Ninguém, com efeito, se
si mesmo é capaz de conceber e compreender este mistério, que transcende à própria
inteligência dos anjos. Que, pois, poderei eu, pecador indigno, pó e cinza, investigar e
compreender de tão alto e sagrado mistério?
2. Senhor, na simplicidade do meu coração, com firme e sincera fé, e obedecendo a vosso
mandado, me aproximo de vós com esperança e reverência e creio verdadeiramente que
estais presente aqui no Sacramento, Deus e homem. Pois quereis que vos receba e me uno
convosco em caridade. Por isso imploro vossa clemência e vos suplico a graça particular de
que todo me desfaleça em vós e me consuma em amor, sem mais cuidar de nenhuma outra
consolação. Porque este altíssimo e diviníssimo Sacramento é a saúde da alma e do corpo,
remédio de toda enfermidade espiritual; cura os vícios, reprime as paixões, vence ou
enfraquece as tentações, comunica maior graça, corrobora a virtude nascente, confirma a fé,
fortalece a esperança, inflama e dilata a caridade.
3. Muitos bens condedestes e concedeis ainda a miúdo aos vossos amigos, neste Sacramento,
quando devotamente comungam, ó Deus meu, amparo da minha alma, reparador da humana
fraqueza e dispensador de toda consolação interior. Porque lhes infundis abundantes
consolações contra várias tribulações e os levantais do abismo do próprio abatimento à
esperança da vossa proteção e os recreais e iluminais interiormente com a nova graça, de
sorte que os mesmos que antes da comunhão se sentiam inquietos e sem afeto, depois de
recreados com o manjar e a bebida celestiais se sentem melhorados e fervorosos. Tudo isso
prodigalizais aos vossos escolhidos, para que verdadeiramente conheçam e evidentemente
experimentem quanta fraqueza têm em si mesmos e quanta bondade e graça alcançam de
vós. Pois de si mesmos são frios, tíbios e insensíveis; por vós, porém, tornam-se fervorosos,
alegres e devotos. Quem, porventura, se chegará humilde à fonte da suavidade, que não
receba dela alguma doçura? Ou quem, junto de um grande fogo, deixará de sentir algum
calor? E vós sois a fonte sempre cheia e abundante; o fogo que sempre arde sem jamais se
apagar.
4. Por isso, se me não é dado haurir da plenitude desta fonte, nem beber até me saciar,
chegarei, todavia, meus lábios ao orifício do canal celeste, a fim de que receba daí ao menos
uma gota, para refrigerar minha sede e não morrer de secura. E se não posso ainda ser todo
celestial, nem tão abrasado como os querubins e serafins, contudo me empenharei por permanecer na devoção e dispor meu coração, para que pela recepção humilde deste
vivificante Sacramento receba ao menos uma tênue faísca do divino incêndio. O que me
falta, porém, ó bom Jesus, Salvador santíssimo, supri-o pela vossa bondade e graça, pois vos
dignastes chamar-nos todos a vós, dizendo: Vinde a mim todos que penais e estais
sobrecarregados, e eu vos aliviarei.
5. Na verdade, eu trabalho com o suor do meu rosto, sou atormentado com angústias do
coração, estou carregado de pecados, molestado de tentações, embaraçado e oprimido com
muitas paixões e não há ninguém que me ajude, livre ou salve, senão vós, Senhor Deus,
Salvador meu, a quem me entrego, com tudo o que me pertence, para que me guardeis e
leveis à vida eterna. Recebei-me para honra e glória de vosso nome, pois me preparastes para
a comida e bebida o vosso corpo e sangue. Concedei-me, Senhor Deus, Salvador meu, que
com a frequência de vosso mistério se me aumente o fervor da devoção.
Fonte: Livro Imitação de Cristo
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