1. Eis que venho a vós, Senhor, para aproveitar-me de vossa munificência, e deliciar-me
neste sagrado banquete, que vós, Deus meu, preparastes, na vossa ternura, para o pobre. Em
vós se acha tudo o que posso e devo desejar; vós sois minha esperança, fortaleza honra e
glória. Alegrai, pois, hoje, a alma de vosso servo, porque a vós, Senhor Jesus, levantei a
minha alma. Desejo receber-vos agora com devoção e reverência; desejo hospedar-vos em
casa, para que, com Zaqueu, mereça ser abençoado e contado entre os filhos de Abraão.
Minha alma suspira por vosso corpo; meu coração deseja ser convosco unido.
2. Dai-vos a mim e estou satisfeito; porque sem vós nada me pode consolar. Sem vós não
posso estar, e sem vossa visita não posso viver. Por isso muitas vezes devo achegar-me a vós
e receber-vos para remédio de minha salvação, a fim de não desfalecer no caminho quando
estiver privado deste alimento celestial. Assim vós mesmo o dissestes uma vez,
misericordiosíssimo Jesus, quando pregáveis e curáveis diversas enfermidades: "Não os
quero despedir em jejum, para que não desfaleçam no caminho"(Mt 15, 32). Fazei também
do mesmo modo comigo, pois ficastes neste Sacramento para consolação dos fiéis. Vós sois
a suave refeição da alma, e quem dignamente vos receber se tornará participante e herdeiro
da glória eterna. A mim, que tantas vezes caio e peco, tão depressa afrouxo e desfaleço, mui
necessário me é que, com a oração, confissão e comunhão freqüente, me renove, purifique e
afervore, para não abandonar meus santos propósitos, abstendo-me da comunhão por mais
tempo.
3. Pois "os sentidos do homem estão inclinados para o mal desde a sua adolescência (Gên
8,21), e se não o socorre o remédio celestial, logo cai o homem de mal em pior. Porque, se
agora, comungando ou celebrando, sou tão negligente e tíbio, que seria se não tomasse este
remédio e não buscasse tão poderoso conforto? E ainda que não esteja, todos os dias,
preparado, nem bem disposto para celebrar, contudo me quero esforçar para, nos tempos
convenientes, receber os sagrados mistérios e tornar-me participante de tanta graça. Porque,
enquanto a alma fiel, longe de vós, peregrina neste corpo mortal, a única e principal
consolação para ela é - que muitas vezes se lembre do seu Deus e receba devotamente o seu
Amado.
4. Ó maravilhosa condescendência de vossa bondade para convosco, que vós, Senhor Deus,
Criador e vivificador de todos os espíritos, vos dignais de vir à minha pobre alma e saciar-lhe
a fome com toda a vossa divindade e humanidade! Ó ditoso coração, ó alma bem-aventurada,
que merece receber-vos com devoção a vós, seu Deus e Senhor, e nesta união encher-se de
gozo espiritual! Oh! que grande Senhor recebe, que amável hóspede agasalha, que agradável
companheiro acolhe, que fiel amigo aceita, que formoso e nobre esposo abraça, mais digno
de ser amado que tudo o que se ama e deseja! Dulcíssimo Amado meu, emudeçam diante de
vós o céu e a terra com todos os seus ornatos; porque tudo o que têm de brilho e beleza é
dom de vossa liberalidade e não chega a igualar a glória de vosso nome, "cuja sabedoria não
tem medida" (Sl 146,5).
Fonte: Livro Imitação de Cristo
Nenhum comentário:
Postar um comentário