1. Confiado, Senhor, na vossa bondade e grande misericórdia, a vós me chego, qual enfermo
ao médico, faminto e sequioso à fonte da vida, indigente ao Rei do céu, servo ao Senhor,
criatura ao Criador, desconsolado ao meu piedoso Consolador. Mas donde me vem a graça
de virdes a mim? Quem sou eu, para que vós mesmos vos ofereçais a mim? Como ousa o
pecador aparecer diante de vós? e vós, como vos dignais vir ao pecador? Conheceis vosso
servo e sabeis que nenhum bem há nele para que lhe presteis esse benefício. Confesso, pois,
minha vileza, reconheço vossa bondade, louvo vossa misericórdia e dou-vos graças por vossa
excessiva caridade. Por vós mesmos fazeis isso, não por meus merecimentos, mas para que
vossa bondade me seja mais manifesta, maior caridade me seja infundida e a caridade me
seja mais perfeitamente recomendada. Pois que assim vos apraz e assim ordenastes, a mim
também me agrada vossa condescendência, e oxalá não ponham estorvo meus pecados!
2. Ó dulcíssimo e benigníssimo Jesus! louvor vos devo pela participação do vosso
sacratíssimo corpo, cuja existência ninguém pode explicar! Mas que hei de pensar nesta
comunhão, chegando-me a meu Senhor, a quem não posso devidamente honrar, e todavia
desejo receber com devoção? Que coisa melhor e mais salutar posso pensar, senão humilharme totalmente diante de vós e exaltar vossa infinita bondade para comigo? Eu vos louvo,
Deus meu, e vos engrandeço para sempre. Desprezo-me e a vós me submeto no abismo de
minha vileza.
3. Vós sois o Santo dos santos, e eu a escória dos pecadores. Vós baixais para mim, que não
sou digno de levantar os olhos para vós. Vindes a mim, quereis estar comigo, convidais-me
ao vosso banquete. Quereis dar-me o alimento espiritual e o pão dos anjos, que outro, na
verdade, não é senão vós mesmos, pão vivo, que descestes do céu e dais a vida ao mundo.
4. Eis a fonte do amor, donde resplandece a vossa misericórdia! Que ações de graças vos são
devidas por este benefício! Oh! quão salutar e proveitoso foi o vosso desígnio, em instituir
este Sacramento! Quão suave e delicioso banquete, em que a vós mesmos vos destes em
alimento! Quão admiráveis, Senhor, são vossas obras, quão inefável vossa verdade! Porque
dissestes - e tudo se fez, e fez-se aquilo que ordenastes.
5. Coisa maravilhosa e digna de fé e acima de toda compreensão humana é que vós, Senhor,
meu Deus, verdadeiro Deus e homem, estejais todo inteiro debaixo das insignificantes
espécies de pão e vinho, e, sem serdes consumido, alimentais aquele que vos recebe. Vós,
Senhor do universo, que não precisas de coisa alguma, quisestes morar em nós por vosso
Sacramento; conservai meu coração e meu corpo sem mancha, para que com alegre e pura
consciência possa muitas vezes celebrar e receber vossos mistérios, para minha eterna
salvação, visto que os instituístes e ordenastes principalmente para vossa honra e perpétua
lembrança.
6. Regozija-te, minha alma, e agradece a Deus tão excelente dádiva e singular consolação,
que ele te deixou neste vale de lágrimas. Porque todas as vezes que celebrares este mistério e
receberes o corpo de Cristo, renovas a obra de tua redenção e te tornas participante de todos
os merecimentos de Cristo. Pois a caridade de Cristo nunca se diminui, nem se esgota jamais
a grandeza de sua propiciação. Por isso te deves preparar sempre para este ato pela
renovação do espírito, e considerar com atenção este grande mistério de salvação. Tão
grande, novo e delicioso se te deve afigurar, quando celebras ou ouves Missa, como se Cristo
no mesmo dia descesse pela primeira vez ao seio da Virgem e se fizesse homem, ou como se,
pendente da cruz, padecesse e morresse pela salvação dos homens.
Fonte: Livro Imitação de Cristo
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