1. A alma: Senhor, meu Deus, que me criastes à vossa imagem e semelhança, concedei-me a
graça que declarastes ser tão importante e necessária para a salvação: que eu vença minha
péssima natureza, que me arrasta ao pecado e à perdição. Porque sinto em minha carne a lei
do pecado, que é contrária à lei do espírito e me cativa, querendo me levar a obedecer, em
muitas coisas, à sensualidade; nem poderei resistir às paixões, se não me assistir vossa
santíssima graça, e me inflamar o coração.
2. É necessária vossa graça, e grande graça, para vencer a natureza, propensa sempre ao mal
desde a infância. Porque, viciada pelo primeiro homem, Adão, e corrompida pelo pecado,
transmite a todos os homens a pena desta mancha, de sorte que a mesma natureza, por vós
criada boa e reta, agora deve ser considerada como enferma e enfraquecida pela corrupção,
visto que seus movimentos, abandonados a si mesmos, a arrastam ao mal e às coisas baixas,
Porque a módica força que lhe ficou é como uma centelha oculta debaixo da cinza. Esta
centelha é a razão natural, que, embora envolta em densas trevas, discerne ainda o bem do
mal, a verdade do erro, mas não é capaz de fazer tudo que aprova, já que não possui a plena
luz da verdade, nem a primitiva pureza de seus afetos.
3. Daí vem, ó meu Deus, que "segundo o homem interior me deleito em vossa lei" (Rom 7,
22), sabendo que vosso mandato é bom, justo e santo, que reprova todo mal e ensina que se
deve fugir ao pecado. Segundo a carne, porém, estou escravizado à lei do pecado, pois
obedeço mais à sensualidade que à razão. Daí vem que "tenho vontade de fazer o bem, mas
não sei realizá-lo" (Rom 7, 18). Por isso faço muitos bons propósitos, mas faltando-me vossa
graça que auxilie minha fraqueza, com o menor obstáculo desfaleço e desisto. Assim sucede
que bem conheço o caminho da perfeição e vejo claramente o que devo fazer. Entretanto,
oprimido com o peso da corrupção, não me elevo ao que é mais perfeito.
4. Oh! Como me é necessária, Senhor, vossa graça, para começar, continuar e completar o
bem. Porque sem ela nada posso fazer, mas tudo posso em vós, se me confortar vossa graça,
Ó graça verdadeiramente celestial, sem a qual nada valem os próprios merecimentos, nem
apreço merecem os dons naturais! Nada valem diante de vós, Senhor, as artes e a riqueza, a
formosura e a fortaleza, o engenho e a eloqüência - sem a graça. Porque os dons da natureza
são comuns aos bons e aos maus; mas a graça ou caridade é peculiar dos escolhidos, porque
os torna dignos da vida eterna. Tão excelente é esta graça, que nem o dom da profecia, nem o
poder de fazer milagres, nem a mais alta contemplação tem valor algum sem ela. Nem
mesmo a fé, nem a esperança, nem as outras virtudes vos agradam, sem a graça e sem a
caridade.
5. Ó graça beatíssima, que fazes rico de virtudes o pobre de espírito e tornas humilde de
coração o rico dos bens de fortunas: vem, desce sobre mim e enche minha alma de tua
consolação, para que não desfaleça, de cansaço e aridez, meu espírito. Suplico-vos, Senhor, que eu ache graça em vossos olhos, porque me basta a vossa graça, embora me falte tudo que
deseja a natureza. Ainda que seja tentado e vexado com muitas tribulações, nada temerei,
enquanto estiver comigo a vossa graça. Ela é a minha fortaleza, me dá conselho e amparo.
Ela é mais poderosa que todos os inimigos e mais sábia que todos os sábios.
6. Ela é a mestra da verdade e da disciplina, a luz do coração e o alívio nas tribulações; ela
afugenta a tristeza, dissipa o temor, nutre a devoção, gera santas lágrimas. Que sou eu sem a
graça, senão um lenho seco e um tronco inútil, que se atira ao fogo? Previna-me, pois,
Senhor, a vossa graça e me acompanhe sempre e me conserve continuamente na prática das
boas obras, por Jesus Cristo, vosso Filho.
Amém.
Fonte: Maria Mãe da Igreja
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