sábado, 5 de dezembro de 2015

Às Claras - Padre Aírton Freire

"Às claras eu colocarei diante do Senhor todos os momentos vividos até aqui. 
Às claras, eu colocarei diante do Senhor, a razão principal que me faz existir. 
Colocarei diante daquele que me ama, tudo aquilo que meu coração agora reclama. Aquilo que não compreendo, aquilo que não entendo, aquilo que mesmo em relação a quem eu amo, me desentende, aquilo que está me alegando ou pelo qual estou sofrendo, às claras eu colocarei diante do Senhor. 
Eu pedirei aquele que me ama, que não permita, por um instante sequer, que minha alma experimente a vergonha de não amá-lo com o devido respeito que lhe é devido, que eu não honre o seu nome da forma que merece. 
Eu pedirei ao Senhor a graça do que mais engrandece; que eu não chegue a fazer o que ensoberbece; que um profundo egoísmo, embora disfarçado, possa vir em mim algum dia habitar; pois sei que, assim, os laços que nos unem poderiam se quebrar. 
Às claras, eu colocarei ao Senhor, a minha razão de viver e crer, e lhe pedirei que purifique o que trago pelo nome do que chamo amor; que em seu nome não me seja causado nem eu venha a causar a ninguém dissabor, embora tenha que pontuar em certos momentos aquilo que com o amor não se combina, para que eu não viva à deriva, como os que não têm um projeto de vida, como se cumprisse uma sina. Que o fruto permaneça e que o amor seja condição. 
Às claras, eu colocarei diante do Senhor o que de mais fundo acontece em meu coração e lhe pedirei a graça do segmento, mesmo que para isto eu tenha de viver e de pagar, com um certo sofrimento, por coerentemente querer viver. 
Que o Senhor nunca se afaste de mim e esteja presente em todo o meu agir. 
Às claras, eu colocarei diante do Senhor o que se passa em mim, mais profundamente aqui, do lado esquerdo do peito, ali onde só tem entrada, o que estiver alinhado a este querer, que por vezes se faz desencontrados, que por vezes nem se compreende de si mesmo achado. 
Eu pedirei ao Senhor, Às claras, de me revelar o que me faz estar aqui." 
(Pe. Airton Freire) - www.fundacaoterra.org.br

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Discurso na íntegra do Papa Francisco na sede das Nações Unidas, pronunciado em 25 de setembro de 2015



Nova Iorque (RV) - Discurso na íntegra do Papa Francisco na sede das Nações Unidas, pronunciado em 25 de setembro de 2015. 

 Senhor Presidente,
 Senhoras e Senhores! 

Mais uma vez, seguindo uma tradição de que me sinto honrado, o Secretário-Geral das Nações Unidas convidou o Papa para falar a esta distinta assembleia das nações. Em meu nome e em nome de toda a comunidade católica, Senhor Ban Ki-moon, desejo manifestar-lhe a gratidão mais sincera e cordial; agradeço-lhe também as suas amáveis palavras. Saúdo ainda os chefes de Estado e de Governo aqui presentes, os embaixadores, os diplomatas e os funcionários políticos e técnicos que os acompanham, o pessoal das Nações Unidas empenhado nesta LXX Sessão da Assembleia Geral, o pessoal de todos os programas e agências da família da ONU e todos aqueles que, por um título ou outro, participam nesta reunião. Por vosso intermédio, saúdo também os cidadãos de todas as nações representadas neste encontro. Obrigado pelos esforços de todos e cada um em prol do bem da humanidade. 

Esta é a quinta vez que um Papa visita as Nações Unidas. Fizeram-no os meus antecessores Paulo VI em 1965, João Paulo II em 1979 e 1995 e o meu imediato antecessor, hoje Papa emérito Bento XVI, em 2008. Nenhum deles poupou expressões de reconhecido apreço pela Organização, considerando-a a resposta jurídica e política adequada para o momento histórico, caracterizado pela superação das distâncias e das fronteiras graças à tecnologia e, aparentemente, superação de qualquer limite natural à afirmação do poder. Uma resposta imprescindível, dado que o poder tecnológico, nas mãos de ideologias nacionalistas ou falsamente universalistas, é capaz de produzir atrocidades tremendas. Não posso deixar de me associar ao apreçamento dos meus antecessores, reiterando a importância que a Igreja Católica reconhece a esta instituição e as esperanças que coloca nas suas actividades. 

A história da comunidade organizada dos Estados, representada pelas Nações Unidas, que festeja nestes dias o seu septuagésimo aniversário, é uma história de importantes sucessos comuns, num período de inusual aceleração dos acontecimentos. Sem pretender ser exaustivo, pode-se mencionar a codificação e o desenvolvimento do direito internacional, a construção da normativa internacional dos direitos humanos, o aperfeiçoamento do direito humanitário, a solução de muitos conflitos e operações de paz e reconciliação, e muitas outras aquisições em todos os sectores da projecção internacional das actividades humanas. Todas estas realizações são luzes que contrastam a obscuridade da desordem causada por ambições descontroladas e egoísmos colectivos. Apesar de serem muitos os problemas graves por resolver, todavia é seguro e evidente que, se faltasse toda esta actividade internacional, a humanidade poderia não ter sobrevivido ao uso descontrolado das suas próprias potencialidades. Cada um destes avanços políticos, jurídicos e técnicos representa um percurso de concretização do ideal da fraternidade humana e um meio para a sua maior realização. 

Por isso, presto homenagem a todos os homens e mulheres que serviram, com lealdade e sacrifício, a humanidade inteira nestes setenta anos. Em particular, desejo hoje recordar aqueles que deram a sua vida pela paz e a reconciliação dos povos, desde Dag Hammarskjöld até aos inúmeros funcionários, de qualquer grau, caídos nas missões humanitárias de paz e reconciliação. 

A experiência destes setenta anos demonstra que, para além de tudo o que se conseguiu, há constante necessidade de reforma e adaptação aos tempos, avançando rumo ao objectivo final que é conceder a todos os países, sem excepção, uma participação e uma incidência reais e equitativas nas decisões. Esta necessidade duma maior equidade é especialmente verdadeira nos órgãos com capacidade executiva real, como o Conselho de Segurança, os organismos financeiros e os grupos ou mecanismos criados especificamente para enfrentar as crises económicas. Isto ajudará a limitar qualquer espécie de abuso ou usura especialmente sobre países em vias de desenvolvimento. Os Organismos Financeiros Internacionais devem velar pelo desenvolvimento sustentável dos países, evitando uma sujeição sufocante desses países a sistemas de crédito que, longe de promover o progresso, submetem as populações a mecanismos de maior pobreza, exclusão e dependência. 

A tarefa das Nações Unidas, com base nos postulados do Preâmbulo e dos primeiros artigos da sua Carta constitucional, pode ser vista como o desenvolvimento e a promoção da soberania do direito, sabendo que a justiça é um requisito indispensável para se realizar o ideal da fraternidade universal. Neste contexto, convém recordar que a limitação do poder é uma ideia implícita no conceito de direito. Dar a cada um o que lhe é devido, segundo a definição clássica de justiça, significa que nenhum indivíduo ou grupo humano se pode considerar omnipotente, autorizado a pisar a dignidade e os direitos dos outros indivíduos ou dos grupos sociais. A efectiva distribuição do poder (político, económico, militar, tecnológico, etc.) entre uma pluralidade de sujeitos e a criação dum sistema jurídico de regulação das reivindicações e dos interesses realiza a limitação do poder. Mas, hoje, o panorama mundial apresenta-nos muitos direitos falsos e, ao mesmo tempo, amplos sectores sem protecção, vítimas inclusivamente dum mau exercício do poder: o ambiente natural e o vasto mundo de mulheres e homens excluídos são dois sectores intimamente unidos entre si, que as relações políticas e económicas preponderantes transformaram em partes frágeis da realidade. Por isso, é necessário afirmar vigorosamente os seus direitos, consolidando a protecção do meio ambiente e pondo fim à exclusão. 

Antes de mais nada, é preciso afirmar a existência dum verdadeiro «direito do ambiente», por duas razões. Em primeiro lugar, porque como seres humanos fazemos parte do ambiente. Vivemos em comunhão com ele, porque o próprio ambiente comporta limites éticos que a acção humana deve reconhecer e respeitar. O homem, apesar de dotado de «capacidades originais [que] manifestam uma singularidade que transcende o âmbito físico e biológico» (Enc. Laudato si’, 81), não deixa ao mesmo tempo de ser uma porção deste ambiente. Possui um corpo formado por elementos físicos, químicos e biológicos, e só pode sobreviver e desenvolver-se se o ambiente ecológico lhe for favorável. Por conseguinte, qualquer dano ao meio ambiente é um dano à humanidade. Em segundo lugar, porque cada uma das criaturas, especialmente seres vivos, possui em si mesma um valor de existência, de vida, de beleza e de interdependência com outras criaturas. Nós cristãos, juntamente com as outras religiões monoteístas, acreditamos que o universo provém duma decisão de amor do Criador, que permite ao homem servir-se respeitosamente da criação para o bem dos seus semelhantes e para a glória do Criador, mas sem abusar dela e muito menos sentir-se autorizado a destruí-la. E, para todas as crenças religiosas, o ambiente é um bem fundamental (cf. ibid., 81). 

O abuso e a destruição do meio ambiente aparecem associados, simultaneamente, com um processo ininterrupto de exclusão. Na verdade, uma ambição egoísta e ilimitada de poder e bem-estar material leva tanto a abusar dos meios materiais disponíveis como a excluir os fracos e os menos hábeis, seja pelo facto de terem habilidades diferentes (deficientes), seja porque lhes faltam conhecimentos e instrumentos técnicos adequados ou possuem uma capacidade insuficiente de decisão política. A exclusão económica e social é uma negação total da fraternidade humana e um atentado gravíssimo aos direitos humanos e ao ambiente. Os mais pobres são aqueles que mais sofrem esses ataques por um triplo e grave motivo: são descartados pela sociedade, ao mesmo tempo são obrigados a viver de desperdícios, e devem sofrer injustamente as consequências do abuso do ambiente. Estes fenómenos constituem, hoje, a «cultura do descarte» tão difundida e inconscientemente consolidada. 

O carácter dramático de toda esta situação de exclusão e desigualdade, com as suas consequências claras, leva-me, juntamente com todo o povo cristão e muitos outros, a tomar consciência também da minha grave responsabilidade a este respeito, pelo que levanto a minha voz, em conjunto com a de todos aqueles que aspiram por soluções urgentes e eficazes. A adopção da «Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável», durante a Cimeira Mundial que hoje mesmo começa, é um sinal importante de esperança. Estou confiado também que a Conferência de Paris sobre as alterações climáticas alcance acordos fundamentais e efectivos. 

Todavia não são suficientes os compromissos solenemente assumidos, mesmo se constituem um passo necessário para a solução dos problemas. A definição clássica de justiça, a que antes me referi, contém como elemento essencial uma vontade constante e perpétua: Iustitia est constans et perpetua voluntas ius suum cuique tribuendi. O mundo pede vivamente a todos os governantes uma vontade efectiva, prática, constante, feita de passos concretos e medidas imediatas, para preservar e melhorar o ambiente natural e superar o mais rapidamente possível o fenómeno da exclusão social e económica, com suas tristes consequências de tráfico de seres humanos, tráfico de órgãos e tecidos humanos, exploração sexual de meninos e meninas, trabalho escravo, incluindo a prostituição, tráfico de drogas e de armas, terrorismo e criminalidade internacional organizada. Tal é a magnitude destas situações e o número de vidas inocentes envolvidas que devemos evitar qualquer tentação de cair num nominalismo declamatório com efeito tranquilizador sobre as consciências. Devemos ter cuidado com as nossas instituições para que sejam realmente eficazes na luta contra estes flagelos. 

A multiplicidade e complexidade dos problemas exigem servir-se de instrumentos técnicos de medição. Isto, porém, esconde um duplo perigo: limitar-se ao exercício burocrático de redigir longas enumerações de bons propósitos – metas, objectivos e indicadores estatísticos –, ou julgar que uma solução teórica única e apriorística dará resposta a todos os desafios. É preciso não perder de vista, em momento algum, que a acção política e económica só é eficaz quando é concebida como uma actividade prudencial, guiada por um conceito perene de justiça e que tem sempre presente que, antes e para além de planos e programas, existem mulheres e homens concretos, iguais aos governantes, que vivem, lutam e sofrem e que muitas vezes se vêem obrigados a viver miseravelmente, privados de qualquer direito. 

Para que estes homens e mulheres concretos possam subtrair-se à pobreza extrema, é preciso permitir-lhes que sejam actores dignos do seu próprio destino. O desenvolvimento humano integral e o pleno exercício da dignidade humana não podem ser impostos; devem ser construídos e realizados por cada um, por cada família, em comunhão com os outros seres humanos e num relacionamento correcto com todos os ambientes onde se desenvolve a sociabilidade humana – amigos, comunidades, aldeias e vilas, escolas, empresas e sindicatos, províncias, países, etc. Isto supõe e exige o direito à educação – mesmo para as meninas (excluídas em alguns lugares) –, que é assegurado antes de mais nada respeitando e reforçando o direito primário das famílias a educar e o direito das Igrejas e de agregações sociais a apoiar e colaborar com as famílias na educação das suas filhas e dos seus filhos. A educação, assim entendida, é a base para a realização da Agenda 2030 e para a recuperação do ambiente. 

Ao mesmo tempo, os governantes devem fazer o máximo possível por que todos possam dispor da base mínima material e espiritual para tornar efectiva a sua dignidade e para formar e manter uma família, que é a célula primária de qualquer desenvolvimento social. A nível material, este mínimo absoluto tem três nomes: casa, trabalho e terra. E, a nível espiritual, um nome: liberdade do espírito, que inclui a liberdade religiosa, o direito à educação e os outros direitos civis. 

Por todas estas razões, a medida e o indicador mais simples e adequado do cumprimento da nova Agenda para o desenvolvimento será o acesso efectivo, prático e imediato, para todos, aos bens materiais e espirituais indispensáveis: habitação própria, trabalho digno e devidamente remunerado, alimentação adequada e água potável; liberdade religiosa e, mais em geral, liberdade do espírito e educação. Ao mesmo tempo, estes pilares do desenvolvimento humano integral têm um fundamento comum, que é o direito à vida, e, em sentido ainda mais amplo, aquilo a que poderemos chamar o direito à existência da própria natureza humana. 

A crise ecológica, juntamente com a destruição de grande parte da biodiversidade, pode pôr em perigo a própria existência da espécie humana. As nefastas consequências duma irresponsável má-gestão da economia mundial, guiada unicamente pela ambição de lucro e poder, devem constituir um apelo a esta severa reflexão sobre o homem: «O homem não se cria a si mesmo. Ele é espírito e vontade, mas é também natureza» (BENTO XVI, Discurso ao Parlamento da República Federal da Alemanha, 22 de Setembro de 2011; citado na Enc. Laudato si’, 6). A criação vê-se prejudicada «onde nós mesmos somos a última instância (…). E o desperdício da criação começa onde já não reconhecemos qualquer instância acima de nós, mas vemo-nos unicamente a nós mesmos» (BENTO XVI, Discurso ao clero da Diocese de Bolzano-Bressanone, 6 de Agosto de 2008; citado na Enc. Laudato si’, 6). Por isso, a defesa do ambiente e a luta contra a exclusão exigem o reconhecimento duma lei moral inscrita na própria natureza humana, que inclui a distinção natural entre homem e mulher (cf. Enc. Laudato si’, 155) e o respeito absoluto da vida em todas as suas fases e dimensões (cf. ibid., 123; 136). 

Sem o reconhecimento de alguns limites éticos naturais inultrapassáveis e sem a imediata actuação dos referidos pilares do desenvolvimento humano integral, o ideal de «preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra» (Carta das Nações Unidas, Preâmbulo) e «promover o progresso social e um padrão mais elevado de viver em maior liberdade» (ibid.) corre o risco de se tornar uma miragem inatingível ou, pior ainda, palavras vazias que servem como desculpa para qualquer abuso e corrupção ou para promover uma colonização ideológica através da imposição de modelos e estilos de vida anormais, alheios à identidade dos povos e, em última análise, irresponsáveis. 

A guerra é a negação de todos os direitos e uma agressão dramática ao meio ambiente. Se se quiser um desenvolvimento humano integral autêntico para todos, é preciso continuar incansavelmente no esforço de evitar a guerra entre as nações e entre os povos. 

Para isso, é preciso garantir o domínio incontrastado do direito e o recurso incansável às negociações, aos mediadores e à arbitragem, como é proposto pela Carta das Nações Unidas, verdadeira norma jurídica fundamental. A experiência destes setenta anos de existência das Nações Unidas, em geral, e, de modo particular, a experiência dos primeiros quinze anos do terceiro milénio mostram tanto a eficácia da plena aplicação das normas internacionais como a ineficácia da sua inobservância. Se se respeita e aplica a Carta das Nações Unidas, com transparência e sinceridade, sem segundos fins, como um ponto de referência obrigatório de justiça e não como um instrumento para mascarar intenções ambíguas, obtém-se resultados de paz. Quando, pelo contrário, se confunde a norma com um simples instrumento que se usa quando resulta favorável e se contorna quando não o é, abre-se uma verdadeira caixa de Pandora com forças incontroláveis, que prejudicam seriamente as populações inermes, o ambiente cultural e também o ambiente biológico. 

O Preâmbulo e o primeiro artigo da Carta das Nações Unidas indicam as bases da construção jurídica internacional: a paz, a solução pacífica das controvérsias e o desenvolvimento de relações amistosas entre as nações. Contrasta fortemente com estas afirmações – e nega-as na prática – a tendência sempre presente para a proliferação das armas, especialmente as de destruição em massa, como o podem ser as armas nucleares. Uma ética e um direito baseados sobre a ameaça da destruição recíproca – e, potencialmente, de toda a humanidade – são contraditórios e constituem um dolo em toda a construção das Nações Unidas, que se tornariam «Nações Unidas pelo medo e a desconfiança». É preciso trabalhar por um mundo sem armas nucleares, aplicando plenamente, na letra e no espírito, o Tratado de Não-Proliferação para se chegar a uma proibição total destes instrumentos. 

O recente acordo sobre a questão nuclear, numa região sensível da Ásia e do Médio Oriente, é uma prova das possibilidades da boa vontade política e do direito, cultivados com sinceridade, paciência e constância. Faço votos de que este acordo seja duradouro e eficaz e, com a colaboração de todas as partes envolvidas, produza os frutos esperados. 

Nesta linha, não faltam provas graves das consequências negativas de intervenções políticas e militares não coordenadas entre os membros da comunidade internacional. Por isso, embora desejasse não ter necessidade de o fazer, não posso deixar de reiterar os meus apelos que venho repetidamente fazendo em relação à dolorosa situação de todo o Médio Oriente, do Norte de África e de outros países africanos, onde os cristãos, juntamente com outros grupos culturais ou étnicos e também com aquela parte dos membros da religião maioritária que não quer deixar-se envolver pelo ódio e a loucura, foram obrigados a ser testemunhas da destruição dos seus lugares de culto, do seu património cultural e religioso, das suas casas e haveres, e foram postos perante a alternativa de escapar ou pagar a adesão ao bem e à paz com a sua própria vida ou com a escravidão. 

Estas realidades devem constituir um sério apelo a um exame de consciência por parte daqueles que têm a responsabilidade pela condução dos assuntos internacionais. Não só nos casos de perseguição religiosa ou cultural, mas em toda a situação de conflito, como na Ucrânia, Síria, Iraque, Líbia, Sudão do Sul e na região dos Grandes Lagos, antes dos interesses de parte, mesmo legítimos, existem rostos concretos. Nas guerras e conflitos, existem pessoas, nossos irmãos e irmãs, homens e mulheres, jovens e idosos, meninos e meninas que choram, sofrem e morrem. Seres humanos que se tornam material de descarte, enquanto nada mais se faz senão enumerar problemas, estratégias e discussões. 

Como pedi ao Secretário-Geral das Nações Unidas, na minha carta de 9 de Agosto de 2014, «a mais elementar compreensão da dignidade humana obriga a comunidade internacional, em particular através das regras e dos mecanismos do direito internacional, a fazer tudo o que estiver ao seu alcance para impedir e prevenir ulteriores violências sistemáticas contra as minorias étnicas e religiosas» e para proteger as populações inocentes. 

Nesta mesma linha, quero citar outro tipo de conflitualidade, nem sempre assim explicitada, mas que inclui silenciosamente a morte de milhões de pessoas. Muitas das nossas sociedades vivem um tipo diferente de guerra com o fenómeno do narcotráfico. Uma guerra «suportada» e pobremente combatida. O narcotráfico, por sua própria natureza, é acompanhado pelo tráfico de pessoas, lavagem de dinheiro, tráfico de armas, exploração infantil e outras formas de corrupção. Corrupção, que penetrou nos diferentes níveis da vida social, política, militar, artística e religiosa, gerando, em muitos casos, uma estrutura paralela que põe em perigo a credibilidade das nossas instituições. 

Comecei a minha intervenção recordando as visitas dos meus antecessores. Agora quereria, em particular, que as minhas palavras fossem como que uma continuação das palavras finais do discurso de Paulo VI, pronunciadas quase há cinquenta anos, mas de valor perene. «Eis chegada a hora em que se impõe uma pausa, um momento de recolhimento, de reflexão, quase de oração: pensar de novo na nossa comum origem, na nossa história, no nosso destino comum. Nunca, como hoje, (…) foi tão necessário o apelo à consciência moral do homem. Porque o perigo não vem nem do progresso nem da ciência, que, bem utilizados, poderão, pelo contrário, resolver um grande número dos graves problemas que assaltam a humanidade» (Discurso aos Representantes dos Estados, 4 de Outubro de 1965, n. 7). Sem dúvida que a genialidade humana, bem aplicada, ajudará a resolver, entre outras coisas, os graves desafios da degradação ecológica e da exclusão. E continuo com as palavras de Paulo VI: «O verdadeiro perigo está no homem, que dispõe de instrumentos sempre cada vez mais poderosos, aptos tanto para a ruína como para as mais elevadas conquistas» (ibid.). 

A casa comum de todos os homens deve continuar a erguer-se sobre uma recta compreensão da fraternidade universal e sobre o respeito pela sacralidade de cada vida humana, de cada homem e de cada mulher; dos pobres, dos idosos, das crianças, dos doentes, dos nascituros, dos desempregados, dos abandonados, daqueles que são vistos como descartáveis porque considerados meramente como números desta ou daquela estatística. A casa comum de todos os homens deve edificar-se também sobre a compreensão duma certa sacralidade da natureza criada. 

Tal compreensão e respeito exigem um grau superior de sabedoria, que aceite a transcendência, renuncie à construção duma elite omnipotente e entenda que o sentido pleno da vida individual e colectiva está no serviço desinteressado aos outros e no uso prudente e respeitoso da criação para o bem comum. Repetindo palavras de Paulo VI, «o edifício da civilização moderna deve construir-se sobre princípios espirituais, os únicos capazes não apenas de o sustentar, mas também de o iluminar e de o animar» (ibid.). 

O Gaúcho Martín Fierro, um clássico da literatura da minha terra natal, canta: «Os irmãos estejam unidos, porque esta é a primeira lei. Tenham união verdadeira em qualquer tempo que seja, porque se litigam entre si, devorá-los-ão os de fora». 

O mundo contemporâneo, aparentemente interligado, experimenta uma crescente, consistente e contínua fragmentação social que põe em perigo «todo o fundamento da vida social» e assim «acaba por colocar-nos uns contra os outros na defesa dos próprios interesses» (Enc. Laudato si’, 229). 

O tempo presente convida-nos a privilegiar acções que possam gerar novos dinamismos na sociedade e frutifiquem em acontecimentos históricos importantes e positivos (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 223). Não podemos permitir-nos o adiamento de «algumas agendas» para o futuro. O futuro exige-nos decisões críticas e globais face aos conflitos mundiais que aumentam o número dos excluídos e necessitados. 

A louvável construção jurídica internacional da Organização das Nações Unidas e de todas as suas realizações – melhorável como qualquer outra obra humana e, ao mesmo tempo, necessária – pode ser penhor dum futuro seguro e feliz para as gerações futuras. Sê-lo-á se os representantes dos Estados souberem pôr de lado interesses sectoriais e ideologias e procurarem sinceramente o serviço do bem comum. Peço a Deus omnipotente que assim seja, assegurando-vos o meu apoio, a minha oração, bem como o apoio e as orações de todos os fiéis da Igreja Católica, para que esta Instituição, com todos os seus Estados-Membros e cada um dos seus funcionários, preste sempre um serviço eficaz à humanidade, um serviço respeitoso da diversidade e que saiba potenciar, para o bem comum, o melhor de cada nação e de cada cidadão. 

A bênção do Altíssimo, a paz e a prosperidade para todos vós e para todos os vossos povos. Obrigado! 

(from Vatican Radio)

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Força Diegão - Quando a fé e a ciência somadas o resultado não é diferente deste: Vitória, Vida e Verdade!

  Quando os médicos disseram não podemos fazer mais nada e o quadro de infecção não permitirá que vida continue por mais que 24h, então Deus foi lá e fez! Porque a vida só é ilimitada nas possibilidades que Ele/Autor pode oferecer. Fora Dele, tudo se limita e fenece. 

 "Muitos amigos estiveram conosco nesta linda manhã durante a celebração da Santa Missa pelo Aniversário do nosso irmão Diegão. 

  Quem não pôde ir, poderá assistir pelo CETV, hoje ao meio dia na TV Verdes Mares, a matéria com depoimentos, um pouco do que aconteceu nesta manhã dia 27 de agosto, dia do aniversário do Diegão, e ver a grande alegria que predominou naquele santo lugar pelo grande milagre que estamos presenciando com esta vitória. 

Deus abençoe cada um de vocês.  A vitória é nossa! 

Obrigada, Senhor!" 

‪#‎ForçaDiegão‬







quarta-feira, 2 de setembro de 2015

A Pa(lavra) Setembro de 2015‏


Setembro de 2015 

 “Todas as vossas coisas sejam feitas com amor” (1Cor 16,14) Há coisas que há muito tempo foram procuradas e, apesar da insistência, jamais foram encontradas. Há coisas pelas quais muito lutamos, demasiadamente até nos esforçamos, visando encontrá-las e, uma vez conseguidas, não soubemos como bem administrá-las, o que é de se lamentar. Há coisas pelas quais nem esperamos, nem estava, tampouco, em nossos planos, que elas viessem nos visitar. Todavia, sem saber como nem por que, um dia, conosco, cada uma delas veio nos procurar. Pergunto: o que fazer? Como proceder? 

  Há coisas que, no tempo de agora, não podemos compreender. Há coisas que, só tardiamente, haveremos de saber a razão de terem ocorrido. Enquanto isso não vem a acontecer, uma resposta adequada há de se dar, pois, afinal de contas, com qualidade de vida é preciso viver. Há que se estar preparado para certas eventualidades, venham elas ao encontro ou de encontro à nossa própria vontade. 

  Há coisas que estão acontecendo, e não sabes como fazer para que elas possam se desenvolver a fim de que a bom termo possam chegar. Há outras coisas que até fogem ao teu controle. Contra elas, trabalhas longamente e não logras sucesso, não vindo ao caso saber se isso mereces ou desmereces. 

  Pessoas há que nunca se negaram a fazer o bem acontecer, e há outras que, mesmo tendo condições, fizeram questão de negar, firmaram posição contrária, a fim tão somente de contrariar, como se residisse nisso um desejo firmado de não querer colaborar. Razões nem sempre razoáveis para isto há dentro ou fora de si. Pois, considerando-se o que se traz consigo - presta bem atenção ao que te digo -, razões maiores existem para que tudo já tivesse sido resolvido. Todavia, insiste-se, persiste-se em não querer largar posições contrárias. A dificuldade para isto, em sua raiz, onde está? O que se há de fazer para que, depois de um tempo, haja condições de se resolver? Com certeza, o passo primeiro é querer. 

  Experimentando o limite da humana condição, nós temos a exata compreensão de que, sozinhos, a bom termo não poderemos chegar. Existe, tanto a nível pessoal como inter-relacional, um quê de impossibilidade de certas questões, por si mesmas, poderem-se ultrapassar, como se houvesse um fechamento, uma posição contrária que não permitisse viver o novo, o diferente. Mesmo querendo, há uma soma, um dividendo que bloqueia o que se tenha planejado levar a termo consequentemente. 

  Existem algumas coisas que é preciso recusar, e há outras que, mesmo sendo difíceis, é necessário aceitar. Coisas de difícil acomodação, mesmo no coração, existem, além de outras que, somente com o passar do tempo, ganharão sentido e poderão calar fundo em nosso ser, matriz do ser na junção de mente e coração. 

  É preciso estar preparado para eventualidades e estar também de sobreaviso para o que chega sem dar aviso de chegada. 

  Há coisas de difícil aceitação, e há coisas que, a depender da forma como forem encaradas, poderão ganhar sentido para esta e posteriores ocasiões. Viver significa administrar bem as ocasiões quando se nos vierem a apresentar, e a vida ganha sentido à medida que o sentido da vida podemos enxergar. A vida, por si mesma, é dom de graça que podemos estragar ou, por seu meio, superar limites. 

 
Há pessoas que fazem de momentos de sua vida algo a se descuidar, e há outras que aproveitam cada oportunidade para que um passo maior, na vida, possam dar. Tenho dito o que aqui vou repetir: “O que dá pra rir dá pra chorar”; e coisas que, há um tempo atrás, tornavam-nos tristes, hoje, para nós, são plenas de sentido pelo ensinamento que trouxeram consigo. Existe ao menos um, dentre muitos motivos, para que novos passos possam ser dados em avanço. A partir de acontecimentos que trazem consigo o caráter de influenciar no que é permanente, podemos romper com o que nos imobiliza e seguir em frente. Viver é ter que optar. Mesmo enfrentando riscos, viver faz sentido, se ao verbo amar puder se conjugar. Lembra-te do que já foi dito tanto: “O que faz o encanto de todo encontro não é tanto o quanto ali se possa fazer ou o que dali possa ainda se dar ou se dizer. O quanto de amor ali ainda houver é que dará sentido a tudo o que se disser e fizer. E isto, somente isto, não passará”.

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Ofício das Trevas Sexta-feira Santa da Paixão do Senhor

Este ofício é a recitação do Ofício de Leituras combinado com Laudes, na madrugada ou manhã da Sexta-feira Santa da Paixão do Senhor. Não se pode recitá-lo na noite de Quinta-feira Santa nem durante a adoração após a Missa. Deve-se usar outro local que não aquele em que está o monumento.

Havendo sacerdote ou diácono, ele preside, de acordo com a precedência. Deve vestir vestes corais de acordo com seu estado. Não se usam estolas ou pluviais. Os demais clérigos usam também vestes corais. Se um sacerdote ou diácono presidir, deve haver um cerimoniário e alguns acólitos, com sobrepelizes. Um dos acólitos é o encarregado de extinguir as velas após os salmos. É bom haver um grupo de cantores, para entoar os hinos, as antífonas e os salmos.

Se apenas leigos celebrarem o Ofício, um deles dirigirá, com as adaptações indicadas. Se esses leigos forem seminaristas ou religiosos, usarão veste talar ou hábito, com sobrepeliz.

No centro do local onde se celebra o Ofício das Trevas, preferencialmente no coro antes do presbitério, coloca-se um ambão, de onde se dirá os salmos, leituras e orações. O presbítero sentará na sede, acompanhado de dois diáconos, ou de um diácono e o cerimoniário, ou do cerimoniário e outro acólito, se houver. Sendo o diácono a presidir, senta-se ao seu lado o cerimoniário e outro acólito, se houver. O Bispo senta-se no trono ou no faldistório, de acordo com as regras do Cerimonial dos Bispos.

O candelabro de trevas, constando de quinze velas, é colocado em frente ao altar, à sua direita. Essas velas serão apagadas, aos poucos, durante o rito. Além do candelabro de trevas, seis velas podem estar acesas no altar, como se faz durante a Missa Solene, e serão apagadas durante o Benedictus. Um apagador de velas é colocado perto do candelabro de trevas.

Não se usa cruz processional nem velas processionais ou tochas durante o Ofício das Trevas.

Dando início à celebração, os clérigos em veste coral, cerimoniários, acólitos e cantores ou coro entram em silêncio e reverência, de forma processional, vindo o celebrante por último, e se aproximam do altar. Genuflectem ao Santíssimo Sacramento, ou, em sua falta, inclinam-se profundamente diante do altar, e vão para seus lugares.

Para a extinção de cada vela, o acólito responsável pega o apagador, reverencia o altar e vai ao candelabro para cumprir sua função.

No invitatório, no hino, no Evangelho, no Benedictus, nas preces e na oração, bem como na despedida, todos permanecem de pé. Nos salmos e leituras, permanecem sentados, exceto quem lê ou entoa o salmo. Durante a frase que substitui o responsório breve das Laudes, todos se ajoelham, bem como no momento apropriado no Evangelho. No invitatório, faz-se o sinal-da-cruz na boca, e no Benedictus e na bênção, o grande sinal-da-cruz.

Invitatório

V: † Abri os meus lábios, ó Senhor.
R: E minha boca anunciará vosso louvor.

Salmo 94 (95)
Convite ao louvor de Deus
Animai-vos uns aos outros, dia após dia, enquanto ainda se disser ‘hoje’. (Hb 3,13)

Ant. O Cristo, o Filho de Deus, com seu sangue nos remiu.

Vinde, exultemos de alegria no Senhor; *
aclamemos o rochedo que nos salva.
Ao seu encontro caminhemos com louvores, *
e com cantos de alegria o celebremos!

Ant. O Cristo, o Filho de Deus, com seu sangue nos remiu.

Na verdade, o Senhor é o grande Deus, *
o grande Rei, muito maior que os deuses todos.
Tem nas mãos as profundezas dos abismos, *
e as alturas das montanhas lhe pertencem;
o mar é dele, pois foi ele quem o fez, *
e a terra firme suas mãos a modelaram.

Ant. O Cristo, o Filho de Deus, com seu sangue nos remiu.

Vinde adoremos e protremo-nos por terra, *
e ajoelhemos ante o Deus que nos criou!
Porque ele é o nosso Deus, nosso Pastor, †
e nós somos o seu povo e seu rebanho, *
as ovelhas que conduz com sua mão.

Ant. O Cristo, o Filho de Deus, com seu sangue nos remiu.

Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: †
"Não fecheis os corações como em Meriba, *
como em Massa, no deserto, aquele dia,
em que outrora vossos pais me provocaram, *
apesar de terem visto as minhas obras. "

Ant. O Cristo, o Filho de Deus, com seu sangue nos remiu.

Quarenta anos desgostou-me aquela raça, †
e eu dise: "Eis um povo transviado, *
seu coração não conheceu os meus caminhos!"
E por isso lhes jurei na minha ira: *
"Não entrarão no meu repouso prometido! "

Ant. O Cristo, o Filho de Deus, com seu sangue nos remiu.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. O Cristo, o Filho de Deus, com seu sangue nos remiu.

Ofício de Leituras

HINO

1 O fel lhe dão por bebida
sobre o madeiro sagrado.
Espinhos, cravos e a lança
ferem seu corpo e seu lado.
No sangue e água que jorram,
mar, terra e céu são lavados.

2 Ó Cruz fiel, sois a árvore
mais nobre em meio às demais,
que selva alguma produz
com flor e frutos iguais.
Ó lenho e cravos tão doces,
um doce peso levais.

3 Árvore, inclina os teus ramos,
abranda as fibras mais duras.
A quem te fez germinar
minora tantas torturas.
Leito mais brando oferece
ao Santo Rei das alturas.

4 Só tu, ó Cruz, mereceste
suster o preço do mundo
e preparar para o náufrago
um porto, em mar tão profundo.
Quis o Cordeiro imolado
banhar-te em sangue fecundo.

5 Glória e poder à Trindade.
Ao Pai e ao Filho, louvor.
Honra ao Espírito Santo.
Eterna glória ao Senhor,
que nos salvou pela graça
e nos remiu pelo amor.

SALMODIA

Ant. 1 Os reis de toda a terra se reúnem e conspiram os governos todos juntos contra o Deus onipotente e o seu Ungido.

Salmo 2
O Messias rei e vencedor
Uniram-se contra Jesus, teu santo servo, a quem ungiste (At 4,27).

Por que os povos agitados se revoltam? *
por que tramam as nações projetos vãos?
Por que os reis de toda a terra se reúnem, †
e conspiram os governos todos juntos *
contra o Deus onipotente e o seu Ungido?

“Vamos quebrar suas correntes”, dizem eles, *
“e lançar longe de nós o seu domínio!”
Ri-se deles o que mora lá nos céus; *
zomba deles o Senhor onipotente.
Ele, então, em sua ira os ameaça, *
e em seu furor os faz tremer, quando lhes diz:

“Fui eu mesmo que escolhi este meu Rei, *
e em Sião, meu monte santo, o consagrei!”
O decreto do Senhor promulgarei, †
foi assim que me falou o Senhor Deus: *
“Tu és meu Filho, e eu hoje te gerei! –

Podes pedir-me, e em resposta eu te darei †
por tua herança os povos todos e as nações, *
e há de ser a terra inteira o teu domínio.
Com cetro férreo haverás de dominá-los, *
e quebrá-los como um vaso de argila!”

E agora, poderosos, entendei; *
soberanos, aprendei esta lição:
Com temor servi a Deus, rendei-lhe glória *
e prestai-lhe homenagem com respeito!

Se o irritais, perecereis pelo caminho, *
pois depressa se acende a sua ira!
– Felizes hão de ser todos aqueles *
que põem sua esperança no Senhor!

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo, *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Os reis de toda a terra se reúnem e conspiram os governos todos juntos contra o Deus onipotente e o seu Ungido.

Apagam-se as duas velas mais ao extremo do candelabro de trevas.

Ant. 2 Eles repartem entre si as minhas vestes e sorteiam entre si a minha túnica.

Salmo 21(22),2-23 [24-32]

Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes? *
E ficais longe de meu grito e minha prece?
Ó meu Deus, clamo de dia e não me ouvis, *
clamo de noite e para mim não há resposta!

Vós, no entanto, sois o santo em vosso Templo, *
que habitais entre os louvores de Israel.
Foi em vós que esperaram nossos pais; *
esperaram e vós mesmo os libertastes.
Seu clamor subiu a vós e foram salvos; *
em vós confiaram e não foram enganados.

Quanto a mim, eu sou um verme e não um homem; *
sou o opróbrio e o desprezo das nações.
Riem de mim todos aqueles que me vêem, *
torcem os lábios e sacodem a cabeça:
“Ao Senhor se confiou, ele o liberte *
e agora o salve, se é verdade que ele o ama!”

Desde a minha concepção me conduzistes, *
e no seio maternal me agasalhastes.
Desde quando vim à luz vos fui entregue; *
desde o ventre de minha mãe sois o meu Deus!
Não fiqueis longe de mim, porque padeço; *
ficai perto, pois não há quem me socorra!

Por touros numerosos fui cercado, *
e as feras de Basã me rodearam;
escancararam contra mim as suas bocas, *
como leões devoradores a rugir.

Eu me sinto como a água derramada, *
e meus ossos estão todos deslocados;
como a cera se tornou meu coração, *
e dentro do meu peito se derrete.

Minha garganta está igual ao barro seco, †
minha língua está colada ao céu da boca, *
e por vós fui conduzido ao pó da morte!
Cães numerosos me rodeiam furiosos, *
e por um bando de malvados fui cercado.

Transpassaram minhas mãos e os meus pés *
e eu poso contar todos os meus ossos.
Eis que me olham e, ao ver-me, se deleitam! †
Eles repartem entre si as minhas vestes *
e sorteiam entre si a minha túnica.

Vós, porém, ó meu Senhor, não fiqueis longe, *
ó minha força, vinde logo em meu socorro!
Da espada libertai a minha alma, *
e das garras desses cães, a minha vida!

Arancai-me da goela do leão, *
e a mim tão pobre, desses touros que me atacam!
Anunciarei o vosso nome a meus irmãos *
e no meio da assembléia hei de louvar-vos!

Esta última parte do salmo é facultativa.

Vós que temeis ao Senhor Deus, dai-lhe louvores; †
glorificai-o, descendentes de Jacó, *
e respeitai-o toda a raça de Israel!
Porque Deus não desprezou nem rejeitou *
a miséria do que sofre sem amparo;
não desviou do humilhado a sua face, *
mas o ouviu quando gritava por socorro.

Sois meu louvor em meio à grande assembléia; *
cumpro meus votos ante aqueles que vos temem!
Vosos pobres vão comer e saciar-se, †
e os que procuram o Senhor o louvarão; *
“Seus corações tenham a vida para sempre!”

Lembrem-se disso os confins de toda a terra, *
para que voltem ao Senhor e se convertam,
e se prostrem, adorando, diante dele *
todos os povos e as famílias das nações.

Pois ao Senhor é que pertence a realeza; *
ele domina sobre todas as nações.
Somente a ele adorarão os poderosos, *
e os que voltam para o pó o louvarão.
Para ele há de viver a minha alma, *
toda aminha descendência há de servi-lo;

às futuras gerações anunciará *
o poder e a justiça do Senhor;
ao povo novo que há de vir, ela dirá: *
“Eis a obra que o Senhor realizou!”

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Eles repartem entre si as minhas vestes e sorteiam entre si a minha túnica.

Apagam-se as duas velas seguintes em direção ao centro do candelabro de trevas.

Ant. 3 Os que buscam matar, me perseguem e procuram tirar minha vida.

Salmo 37(38)

Repreendei-me, Senhor, mas sem ira; *
corrigi-me, mas não com furor!

Vossas flechas em mim penetraram; *
vossa mão se abateu sobre mim.
Nada resta de são no meu corpo, *
pois com muito rigor me tratastes!

Não há parte sadia em meus ossos, *
pois pequei contra vós, ó Senhor!
Meus pecados me afogam e esmagam, *
como um fardo pesado me oprimem.

Cheiram mal e supuram minhas chagas *
por motivo de minhas loucuras.
Ando triste, abatido, encurvado, *
todo o dia afogado em tristeza.

As entranhas me ardem de febre, *
já não há parte sã no meu corpo.
Meu coração grita e geme de dor, *
esmagado e humilhado demais.

Conheceis meu desejo, Senhor, *
meus gemidos vos são manifestos;
bate rápido o meu coração, †
minhas forças estão me deixando, *
e sem luz os meus olhos se apagam.

Companheiros e amigos se afastam, †
fogem longe das minhas feridas; *
meus parentes mantêm-se à distância.

Armam laços os meus inimigos, *
que procuram tirar minha vida;
os que buscam matar-me ameaçam *
e maquinam traições todo o dia.

Eu me faço de surdo e não ouço, *
eu me faço de mudo e não falo;
semelhante a alguém que não ouve *
e não tem a resposta em sua boca.

Mas, em vós, ó Senhor, eu confio, *
e ouvireis meu lamento, ó meu Deus!
Pois rezei: “Que não zombem de mim, *
nem se riam, se os pés me vacilam!”

Ó Senhor, estou quase caindo, *
minha dor não me larga um momento!
Sim, confesso, Senhor, minha culpa: *
meu pecado me aflige e atormenta.

São bem fortes os meus adversários †
que me vêm atacar sem razão; *
quantos há que sem causa me odeiam!
Eles pagam o bem com o mal, *
porque busco o bem, me perseguem.

Não deixeis vosso servo sozinho, *
ó meu Deus, ficai perto de mim!
Vinde logo trazer-me socorro, *
porque sois para mim salvação!

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Os que buscam matar, me perseguem e procuram tirar minha vida.

Apagam-se as duas velas seguintes em direção ao centro do candelabro de trevas.

V. As falsas testemunhas se ergueram.
R. E vomitam violência contra mim.

PRIMEIRA LEITURA

Da Carta aos Hebreus 9,11-28
Cristo, sumo sacerdote, com o seu próprio sangue,
entrou no Santuário uma vez por todas

Irmãos: Cristo veio como sumo-sacerdote dos bens futuros. Através de uma tenda maior e mais perfeita, que não é obra de mãos humanas, isto é, que não faz parte desta criação, e não com o sangue de bodes e bezerros, mas com o seu próprio sangue, ele entrou no Santuário uma vez por todas, obtendo uma redenção eterna. De fato, se o sangue de bodes e touros, e a cinza de novilhas espalhada sobre os seres impuros os santifica e realiza a pureza ritual dos corpos, quanto mais o Sangue de Cristo, purificará a nossa consciência das obras mortas, para servirmos ao Deus vivo, pois, em virtude do espírito eterno, Cristo se ofereceu a si mesmo a Deus como vítima sem mancha.

Por isso, ele é mediador de uma nova aliança. Pela sua morte, ele reparou as transgressões cometidas no decorrer da primeira aliança. E, assim, aqueles que são chamados recebem a promessa da herança eterna. Onde existe testamento, é preciso que seja constatada a morte de quem fez o testamento. Pois um testamento só tem valor depois da morte, e não tem efeito nenhum enquanto ainda vive aquele que fez o testamento. Por isso, nem mesmo a primeira aliança foi inaugurada sem sangue. Quando anunciou a todo o povo cada um dos mandamentos da Lei, Moisés tomou sangue de novilhos e bodes, junto com água, lã vermelha e um hissopo. Em seguida, aspergiu primeiro o próprio livro e todo o povo, e disse: “Este é o sangue da aliança que Deus faz convosco”. Do mesmo modo, aspergiu com sangue também a Tenda e todos os objetos que serviam para o culto. E assim, segundo a Lei, quase todas as coisas são purificadas com sangue, e sem derramamento de sangue não existe perdão.

Portanto, as cópias das realidades celestes tinham que ser purificadas dessa maneira; mas as próprias realidades celestes devem ser purificadas com sacrifícios melhores. De fato, Cristo não entrou num santuário feito por mão humana, imagem do verdadeiro, mas no próprio céu, a fim de comparecer, agora, na presença de Deus, em nosso favor. E não foi para se oferecer a si muitas vezes, como o sumo-sacerdote que, cada ano, entra no Santuário com sangue alheio. Porque, se assim fosse, deveria ter sofrido muitas vezes, desde a fundação do mundo. Mas foi agora, na plenitude dos tempos, que, uma vez por todas, ele se manifestou para destruir o pecado pelo sacrifício de si mesmo. O destino de todo homem é morrer uma só vez, e depois vem o julgamento. Do mesmo modo, também Cristo, oferecido uma vez por todas, para tirar os pecados da multidão, aparecerá uma segunda vez, fora do pecado, para salvar aqueles que o esperam.

RESPONSÓRIO Cf. Is 53,7.12

R. Foi levado como ovelha ao matadouro; e, maltratado, não abriu a sua boca; * Foi condenado para a vida de seu povo.
V. Ele próprio entregou a sua vida e deixou-se colocar entre os facínoras. * Foi condenado.

Apaga-se a próxima vela, à esquerda, no candelabro de trevas.

SEGUNDA LEITURA

Das Catequeses de São João Crisóstomo, bispo
(Cat. 3,13-19: SCh 50,174-177)
(Séc.IV)
O poder do sangue de Cristo

Queres conhecer o poder do sangue de Cristo? Voltemos às figuras que o profetizaram e recordemos a narrativa do Antigo Testamento: Imolai, disse Moisés, um cordeiro de um ano e marcai as portas com o seu sangue (cf. Ex 12,6-7). Que dizes, Moisés? O sangue de um cordeiro tem poder para libertar o homem dotado de razão? É claro que não, responde ele, não porque é sangue, mas por ser figura do sangue do Senhor. Se agora o inimigo, ao invés do sangue simbólico aspergido nas portas, vir brilhar nos lábios dos fiéis, portas do templo dedicado a Cristo, o sangue verdadeiro, fugirá ainda mais para longe.

Queres compreender mais profundamente o poder deste sangue? Repara de onde começou a correr e de que fonte brotou. Começou a brotar da própria cruz, e a sua origem foi o lado do Senhor. Estando Jesus já morto e ainda pregado na cruz, diz o evangelista, um soldado aproximou-se, feriu-lhe o lado com uma lança, e imediatamente saiu água e sangue: a água, como símbolo do batismo; o sangue, como símbolo da eucaristia. O soldado, traspassando-lhe o lado, abriu uma brecha na parede do templo santo, e eu, encontrando um enorme tesouro, alegro-me por ter achado riquezas extraordinárias. Assim aconteceu com este cordeiro. Os judeus mataram um cordeiro e eu recebi o fruto do sacrifício.

De seu lado saiu sangue e água (Jo 19,34). Não quero, querido ouvinte, que trates com superficialidade o segredo de tão grande mistério. Falta-me ainda explicar-te outro significado místico e profundo. Disse que esta água e este sangue são símbolos do batismo e da eucaristia. Foi destes sacramentos que nasceu a santa Igreja, pelo banho da regeneração e pela renovação no Espírito Santo, isto é, pelo batismo e pela eucaristia que brotaram do lado de Cristo. Pois Cristo formou a Igreja de seu lado traspassado, assim como do lado de Adão foi formada Eva, sua esposa.

Por esta razão, a Sagrada Escritura, falando do primeiro homem, usa a expressão osso dos meus ossos e carne da minha carne (Gn 2,23), que São Paulo refere, aludindo ao lado de Cristo. Pois assim como Deus formou a mulher do lado do homem, também Cristo, de seu lado, nos deu a água e o sangue para que surgisse a Igreja. E assim como Deus abriu o lado de Adão enquanto ele dormia, também Cristo nos deu a água e o sangue durante o sono de sua morte.

Vede como Cristo se uniu à sua esposa, vede com que alimento nos sacia. Do mesmo alimento nos faz nascer e nos nutre. Assim como a mulher, impulsionada pelo amor natural, alimenta com o próprio leite e o próprio sangue o filho que deu à luz, também Cristo alimenta sempre com o seu sangue aqueles a quem deu o novo nascimento.

RESPONSÓRIO Cf. 1Pd 1,18-19; Ef 2,18; 1Jo 1,7

R. Não foi nem com ouro nem prata que fostes remidos, irmãos; mas sim pelo sangue precioso
de Cristo, o Cordeiro sem mancha. * Por ele nós temos acesso num único Espírito ao Pai.
V. O sangue do Filho de Deus nos lava de todo pecado. * Por ele.

Apaga-se a próxima vela, à direita, no candelabro de trevas.

CÂNTICOS PARA AS VIGÍLIAS

Antífona: Do lado do Senhor crucificado, depois de aberto pela lança do soldado, logo saiu sangue e água para remir-nos.

Cântico I - Jr 14,17-21
Lamentação em tempo de fome e de guerra
O Reino de Deus está próximo. Convertei-vos e crede no Evangelho! (Mc 1,15).

Os meus olhos, noite e dia, *
chorem lágrimas sem fim;
pois sofreu um golpe horrível, †
foi ferida gravemente *
a virgem filha do meu povo!

Se eu saio para os campos, *
eis os mortos à espada;
se eu entro na cidade, *
eis as vítimas da fome!

Até o profeta e o sacerdote †
perambulam pela terra *
sem saber o que se passa.
Rejeitastes, por acaso, *
a Judá inteiramente?

Por acaso a vossa alma *
desgostou-se de Sião?
Por que feristes vosso povo *
de um mal que não tem cura?

Esperávamos a paz, *
e não chegou nada de bom;
e o tempo de reerguer-nos, *
mas só vemos o terror!

Conhecemos nossas culpas †
e as de nossos ancestrais, *
pois pecamos contra vós!
Por amor de vosso nome, *
ó Senhor, não nos deixeis!

Não deixeis que se profane *
vosso trono glorioso!
Recordai-vos, ó Senhor! *
Não rompais vossa Aliança!

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Cântico II – Ez 36,24-28
Deus renovará o seu povo
Eles serão o seu povo, e o próprio Deus estará com eles (Ap 21,3).

Haverei de retirar-vos do meio das nações, †
haverei de reunir-vos de todos os países, *
e de volta eu levarei todos vós à vossa terra.
Haverei de derramar sobre vós uma água pura, †
e de vossas imundícies sereis purificados; *
sim, sereis purificados de toda a idolatria.

Dar-vos-ei um novo espírito e um novo coração; †
tirarei de vosso peito este coração de pedra, *
no lugar colocarei novo coração de carne.
Haverei de derramar meu Espírito em vós †
e farei que caminheis obedecendo a meus preceitos, *
que observeis meus mandamentos e guardeis a minha Lei.

E havereis de habitar aquela terra prometida, †
que nos tempos do passado eu doei a vossos pais, *
e sereis sempre o meu povo e eu serei o vosso Deus!

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Cântico III – Lm5,1-7.15-17.19-21
Oração na tribulação
Em toda parte e sempre levamos em nós mesmos os sofrimentos mortais de Jesus, para que
também a vida de Jesus seja manifestada em nossa frágil natureza (2Cor 4,10).

Senhor, lembrai-vos do que nos sucedeu, *
olhai e vede a nossa humilhação!
Nossa herança ficou com estrangeiros, *
nossas casas passaram a mãos estranhas!

Somos órfãos, pois já não temos pai, *
nossas mães se tornaram quais viúvas!
Nossa água, compramos por dinheiro, *
nossa lenha nos custa um alto preço!

Perseguidos, com a canga no pescoço, *
sem repouso, estamos esgotados!
Ao Egito e à terra dos Assírios *
estendemos a mão para ter pão.

Pecaram os pais, já não existem; *
levamos as culpas dos seus crimes.
A alegria fugiu dos corações, *
converteu-se em luto a nossa dança!

A coroa caiu-nos da cabeça, *
infelizes de nós, porque pecamos!
Amargurou-se o nosso coração, *
nossos olhos estão anuviados!

Ó Senhor, vós reinais eternamente, *
vosso trono perdura para sempre!
Por que persistir em esquecer-nos? *
Por que, para sempre, abandonar-nos?

Convertei-nos a vós e voltaremos, *
renovai nossos dias, como outrora!

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Do lado do Senhor crucificado, depois de aberto pela lança do soldado, logo saiu sangue e água para remir-nos.

EVANGELHO PARA AS VIGÍLIAS

Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo segundo Mateus 27,1-2.11-56

Tu és o rei dos judeus?
1 De manhã cedo, todos os sumos sacerdotes e os anciãos do povo convocaram um conselho contra Jesus, para condená-lo à morte. 2 Eles o amararam, levaram-no e o entregaram a Pilatos, o governador.

11 Jesus foi posto diante do governador, e este o interrogou: “Tu és o rei dos judeus?” Jesus declarou: “É como dizes”, 12 e nada respondeu, quando foi acusado pelos sumos sacerdotes e anciãos. 13 Então Pilatos perguntou:“Não estás ouvindo de quanta coisa eles te acusam?” 14 Mas Jesus não respondeu uma só palavra, e o governador ficou muito impressionado. 15 Na festa da Páscoa, o governador costumava soltar o prisioneiro que a multidão quisesse. 16 Naquela ocasião, tinham um prisioneiro famoso, chamado Barrabás. 17 Então Pilatos perguntou à multidão reunida: “Quem vós quereis que eu solte: Barrabás, ou Jesus, a quem chamam de Cristo?” 18 Pilatos bem sabia que eles haviam entregado Jesus por inveja.

19 Enquanto Pilatos estava sentado no tribunal, sua mulher mandou dizer a ele: “Não te envolvas com esse justo! porque esta noite, em sonho, sofri muito por causa dele.” 20 Porém, os sumos sacerdotes e os anciãos convenceram as multidões para que pedissem Barrabás e que fizessem Jesus morrer. 21 O governador tornou a perguntar: “Qual dos dois quereis que eu solte?” Eles gritaram: “Barrabás.” 22 Pilatos perguntou: “Que farei com Jesus, que chamam de Cristo?” Todos gritaram: “Seja crucificado!” 23 Pilatos falou: “Mas, que mal ele fez?” Eles, porém, gritaram com mais força: “Seja crucificado!”

24 Pilatos viu que nada conseguia e que poderia haver uma revolta. Então mandou trazer água, lavou as mãos diante da multidão, e disse: “Eu não sou responsável pelo sangue deste homem. Este é um problema vosso!” 25 O povo todo respondeu: “Que o sangue dele caia sobre nós e sobre os nossos filhos”. 26 Então Pilatos soltou Barrabás, mandou flagelar Jesus, e entregou-o para ser crucificado.

Salve, rei dos judeus!

27 Em seguida, os soldados de Pilatos levaram Jesus ao palácio do governador, e reuniram toda a tropa em volta dele. 28 Tiraram sua roupa e o vestiram com um manto vermelho; =29 depois teceram uma coroa de espinhos, puseram a coroa em sua cabeça, e uma vara em sua mão direita. Então se ajoelharam diante de Jesus e zombaram, dizendo: “Salve, rei dos judeus!” 30 Cuspiram nele e, pegando uma vara, bateram na sua cabeça. 31 Depois de zombar dele, tiraram-lhe o manto vermelho e, de novo, o vestiram com suas próprias roupas. Daí o levaram para crucificar.

Com ele crucificaram dois ladrões

32 Quando saíam, encontraram um homem chamado Simão, da cidade de Cirene, e o obrigaram a carregar a cruz de Jesus. 33 E chegaram a um lugar chamado Gólgota, que quer dizer “lugar de caveira”. 34 Ali deram vinho misturado com fel para Jesus beber. Ele provou, mas não quis beber. 35 Depois de o crucificarem, fizeram um sorteio, repartindo entre si as suas vestes. 36 E ficaram ali sentados, montando guarda. 37 Acima da cabeça de Jesus puseram o motivo da sua condenação: “Este é Jesus, o Rei dos Judeus.”

38 Com ele também crucificaram dois ladrões, um à direita e outro à esquerda de Jesus.

Se és o Filho de Deus, desce da cruz!

39 As pessoas que passavam por ali o insultavam, balançando a cabeça e dizendo: 40 “Tu que ias destruir o Templo e construí-lo de novo em três dias, salva-te a ti mesmo! Se és o Filho de Deus, desce da cruz!” 41 Do mesmo modo, os sumos sacerdotes, junto com os mestres da Lei e os anciãos, também zombaram de Jesus: 42 “A outros salvou. a si mesmo não pode salvar! É Rei de Israel. Desça agora da cruz! e acreditaremos nele. 43 Confiou em Deus; que o livre agora, se é que Deus o ama! Já que ele disse: Eu sou o Filho de Deus.” 44 Do mesmo modo, também os dois ladrões que foram crucificados com Jesus o insultavam.

Eli, Eli, lamá sabactâni?

45 Desde o meio-dia até às três horas da tarde, houve escuridão sobre toda a terra. 46 Pelas três horas da tarde, Jesus deu um forte grito: “Eli, Eli, lamá sabactâni?”, que quer dizer: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” 47 Alguns dos que ali estavam, ouvindo-o, disseram: “Ele está chamando Elias!” 48 E logo um deles, correndo, pegou uma esponja, ensopou-a em vinagre, colocou-a na ponta de uma vara, e lhe deu para beber. 49 Outros, porém, disseram: “Deixa, vamos ver se Elias vem salvá-lo!” 50Então Jesus deu outra vez um forte grito e entregou o espírito.

Aqui todos se ajoelham, permanecendo assim por algum tempo.

51 E eis que a cortina do santuário rasgou-se de alto a baixo, em duas partes, a terra tremeu e as pedras se partiram. 52 Os túmulos se abriram e muitos corpos dos santos falecidos ressuscitaram! 53 Saindo dos túmulos, depois da ressurreição de Jesus, apareceram na Cidade Santa e foram vistos por muitas pessoas. 54 O oficial e os soldados que estavam com ele guardando Jesus, ao notarem o terremoto e tudo que havia acontecido, ficaram com muito medo e disseram: “Ele era mesmo Filho de Deus!”

55 Grande número de mulheres estava ali, olhando de longe. Elas haviam acompanhado Jesus desde a Galiléia, prestando-lhe serviços. 56 Entre elas estavam Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.

Laudes

SALMODIA

Ant. 1 Deus não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós.

Salmo 50(51)
Tende piedade, ó meu Deus!
Renovai o vosso espírito e a vossa mentalidade. Revesti o homem novo (Ef 4,23-24).

Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia! *
Na imensidão de vosso amor,purificai-me!
Lavai-me todo inteiro do pecado, *
e apagai completamente a minha culpa!

Eu reconheço toda a minha iniqüidade, *
o meu pecado está sempre à minha frente.
Foi contra vós, só contra vós, que eu pequei, *
e pratiquei o que é mau aos vossos olhos! –

Mostrais assim quanto sois justo na sentença, *
e quanto é reto o julgamento que fazeis.
Vede, Senhor, que eu nasci na iniqüidade *
e pecador já minha mãe me concebeu.

Mas vós amais os corações que são sinceros, *
na intimidade me ensinais sabedoria.
Aspergi-me e serei puro do pecado, *
e mais branco do que a neve ficarei.

Fazei-me ouvir cantos de festa e de alegria, *
e exultarão estes meus ossos que esmagastes.
Desviai o vosso olhar dos meus pecados *
e apagai todas as minhas transgressões!

Criai em mim um coração que seja puro, *
dai-me de novo um espírito decidido.
Ó Senhor, não me afasteis de vossa face, *
nem retireis de mim o vosso Santo Espírito!

Dai-me de novo a alegria de ser salvo *
e confirmai-me com espírito generoso!
Ensinarei vosso caminho aos pecadores, *
e para vós se voltarão os transviados.

Da morte como pena, libertai-me, *
e minha língua exaltará vossa justiça!
Abri meus lábios, ó Senhor, para cantar, *
e minha boca anunciará vosso louvor!

Pois não são de vosso agrado os sacrifícios, *
e, se oferto um holocausto, o rejeitais.
Meu sacrifício é minha alma penitente, *
não desprezeis um coração arrependido!

Sede benigno com Sião, por vossa graça, *
reconstruí Jerusalém e os seus muros!
E aceitareis o verdadeiro sacrifício, *
os holocaustos e oblações em vosso altar!

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Deus não poupou seu próprio Filho, mas o entregou por todos nós.

Apagam-se as duas velas seguintes em direção ao centro do candelabro de trevas.

Ant. 2 Jesus Cristo nos amou até o fim e lavou nossos pecados com seu sangue.


Cântico Hab 3,2-4.13a.15-19
Deus há de vir para julgar
Erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima (Lc 21,28).

Eu ouvi vossa mensagem, ó Senhor, *
e enchi-me de temor.
Manifestai a vossa obra pelos tempos *
e tornai-a conhecida.

Ó Senhor, mesmo na cólera, lembrai-vos *
de ter misericórdia!
Deus virá lá das montanhas de Temã, *
e o Santo, de Farã.

O céu se enche com a sua majestade, *
e a terra, com sua glória.
Seu esplendor é fulgurante como o sol, *
saem raios de suas mãos.

Nelas se oculta o seu poder como num véu, *
seu poder vitorioso.
Para salvar o vosso povo vós saístes, *
para salvar o vosso Ungido.

E lançastes pelo mar vossos cavalos *
no turbilhão das grandes águas.
Ao ouvi-lo estremeceram-me as entranhas *
e tremeram os meus lábios.

A cárie penetrou-me até os ossos, *
e meus passos vacilaram.
Confiante espero o dia da aflição, *
que virá contra o opressor.

Ainda que a figueira não floresça *
nem a vinha dê seus frutos,
a oliveira não dê mais o seu azeite, *
nem os campos, a comida;

mesmo que faltem as ovelhas nos apriscos *
e o gado nos curais:
mesmo assim eu me alegro no Senhor, *
exulto em Deus, meu Salvador!

O meu Deus e meu Senhor é minha força *
e me faz ágil como a corça;
para as alturas me conduz com segurança *
ao cântico de salmos.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Jesus Cristo nos amou até o fim e lavou nossos pecados com seu sangue.

Apagam-se as duas velas seguintes em direção ao centro do candelabro de trevas.

Ant. 3 Adoramos, Senhor, vosso madeiro, vossa ressurreição nós celebramos. A alegria chegou ao mundo inteiro, pela cruz que nós hoje veneramos.

Salmo 147(147 B)
Restauração de Jerusalém
Vem! Vou mostrar-te a noiva, a esposa do Cordeiro! (Ap 21,9).

Glorifica o Senhor, Jerusalém! *
Ó Sião, canta louvores ao teu Deus!

Pois reforçou com segurança as tuas portas, *
e os teus filhos em teu seio abençoou;
a paz em teus limites garantiu *
e te dá como alimento a flor do trigo.

Ele envia suas ordens para a terra, *
e a palavra que ele diz core veloz;
ele faz cair a neve como lã *
e espalha a geada como cinza. –

Como de pão lança as migalhas do granizo, *
a seu frio as águas ficam congeladas.
Ele envia sua palavra e as derrete, *
sopra o vento e de novo as águas corem.

Anuncia a Jacó sua palavra, *
seus preceitos e suas leis a Israel.
Nenhum povo recebeu tanto carinho, *
a nenhum outro revelou os seus preceitos.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Glorifica Adoramos, Senhor, vosso madeiro, vossa ressurreição nós celebramos. A alegria chegou ao mundo inteiro, pela cruz que nós hoje veneramos.

Apagam-se as duas velas seguintes em direção ao centro do candelabro de trevas.

LEITURA BREVE Is 52,13-15

Ei-lo, o meu Servo será bem sucedido; sua ascensão será ao mais alto grau. Assim como muitos
ficaram pasmados ao vê-lo – tão desfigurado ele estava que não parecia ser um homem ou ter
aspecto humano – do mesmo modo ele espalhará sua fama entre os povos. Diante dele os reis se manterão em silêncio, vendo algo que nunca lhes foi narrado e conhecendo coisas que jamais ouviram.

Em lugar do responsório se diz, de joelhos:

Ant. Jesus Cristo se humilhou e se fez obediente, obediente até à morte e morte de cruz.

BENEDICTUS Lc 1, 68-79

Durante o Benedictus, se houver as seis velas do altar, o acólito responsável por apagá-las, munido do apagador, dirige-se ao altar, faz a inclinação profunda, e procede à cerimônia. A partir do sexto verso, ele vai à extrema esquerda do altar, e apaga essa vela. Depois, vai à extrema direita, para apagar a vela correspondente. Volta, então, à esquerda, para apagar a próxima, e, então, à direita, e assim por diante, de modo a apagar todas as seis velas nos últimos seis versos. Feita a cerimônia, inclina-se profundamente ao altar, e volta ao seu lugar.

Ant. Acima de sua cabeça puseram escrito o motivo da culpa e do crime de Cristo: Jesus Nazareno, o Rei dos judeus.

Bendito † seja o Senhor Deus de Israel, *
que a seu povo visitou e libertou;
e fez surgir um poderoso Salvador *
na casa de Davi, seu servidor,
como falara pela boca de seus santos, *
os profetas desde os tempos mais antigos,
para salvar-nos do poder dos inimigos *
e da mão de todos quantos nos odeiam.
Assim mostrou misericórdia a nossos pais, *
recordando a sua santa Aliança
e o juramento a Abraão, o nosso pai, *
de conceder-nos que, libertos do inimigo,
a ele nós sirvamos sem temor †
em santidade e em justiça diante dele, *
enquanto perdurarem nossos dias.
Serás profeta do Altíssimo, ó menino, †
pois irás andando à frente do Senhor *
para aplainar e preparar os seus caminhos,
anunciando ao seu povo a salvação, *
que está na remissão de seus pecados.
Pelo amor do coração de nosso Deus, *
Sol nascente que nos veio visitar
lá do alto como luz resplandecente *
a iluminar a quantos jazem entre as trevas
e na sombra da morte estão sentados †
e para dirigir os nossos passos, *
guiando-nos no caminho da paz.
Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo. *
Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

Ant. Acima de sua cabeça puseram escrito o motivo da culpa e do crime de Cristo: Jesus Nazareno, o Rei dos judeus.

PRECES

Adoremos com sincera piedade a Cristo, nosso Redentor, que por nós sofreu a Paixão e foi
sepultado para ressuscitar ao terceiro dia; e peçamos humildemente:
Senhor, tende piedade de nós!

Cristo, nosso Mestre e Senhor, obediente até à morte por nosso amor,
– ensinai-nos a obedecer sempre à vontade do Pai.
Senhor, tende piedade de nós!

Cristo, nossa vida, que morrendo na cruz, destruístes o poder da morte e do inferno,
– ensinai-nos a morrer convosco, para merecermos também ressuscitar convosco na glória.
Senhor, tende piedade de nós!

Cristo, nosso Rei, que fostes desprezado como um verme e humilhado como a vergonha do gênero humano,
– ensinai-nos a imitar a vossa humildade salvadora.
Senhor, tende piedade de nós!

Cristo, nossa salvação, que destes a vida por amor dos seres humanos, vossos irmãos e irmãs,
– fazei que nos amemos uns aos outros com a mesma caridade.
Senhor, tende piedade de nós!

Cristo, nosso Salvador, que de braços abertos na cruz quisestes atrair para vós a humanidade inteira,
– reuni em vosso reino os filhos e as filhas de Deus dispersos pelo mundo.
Senhor, tende piedade de nós!

Pai nosso que estais nos céus,
santificado seja o vosso nome;
venha a nós o vosso reino,
seja feita a vossa vontade,
assim na terra como no céu;
o pão nosso de cada dia nos dai hoje;
perdoai-nos as nossas ofensas,
assim como nós perdoamos
a quem nos tem ofendido,
e não nos deixeis cair em tentação,
mas livrai-nos do mal.

ORAÇÃO

Olhai com amor, ó Pai, esta vossa família, pela qual nosso Senhor Jesus Cristo livremente se
entregou às mãos dos inimigos e sofreu o suplício da cruz. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
R. Amém.

Se um sacerdote ou diácono preside o Ofício, é ele quem despede o povo, dizendo:
V. O Senhor esteja convosco.
R. Ele está no meio de nós.
V. Abençoe-vos Deus todo-poderoso, Pai e Filho † e Espírito Santo.
R. Amém.

Dada a bênção, acrescenta-se:
V. Ide em paz e o Senhor vos acompanhe.
R. Graças a Deus.

Não havendo sacerdote, ou diácono, e na recitação individual, conclui-se assim:
O Senhor nos abençoe, nos livre de todo o mal e nos conduza à vida eterna.
R. Amém.

Faz-se o strepitus com um pedaço de madeira ou o breviário, significando o terremoto ocorrido na morte de Jesus. Os demais podem juntar-se ao strepitus com seus breviários. Apaga-se a última vela do candelabro de trevas.